terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Madrugada

A insônia se apossou de mim. No meio de cobertores e travesseiros o sono não me encontrava. Ou eu não o desejava tanto assim. Faltava mais alguma coisa naquele cômodo... Mais algumas palavras. Algumas visões.
Levantei-me da cama ainda fria e fui para janela do apartamento. O relógio marcava 3 da manhã. Tudo estava calmo. Tudo era silêncio. A rua, tão movimentada de dia, expressava uma tristeza melancólica. Os poucos carros que passavam por ali traziam Medo. Denomeinei-os assim.
Olhei mais adiante, vi umas garotas de programa. Só não sabia se buscava pelo alimento ou pela luxuosidade. Há quem diga que buscavam por luxúria, mas parece um pouco clichê. Queria saber mais.
Observei cada passo daquelas garotas. Todas vulgares. Gritavam, se exibiam para os poucos carros que passavam. Nada. Voltavam para o mesmo lugar, para as amigas, para compartilhar aquilo que nenhuma delas tinha. Amor? Não sei. É difícil encontrar uma pessoa destituída de amor. Recebemos amor até dos nossos bichos de estimação. Elas buscavam mais. Expressavam mais. Denominei-as como Tristeza.
Parei de olhar para Tristeza e pude ver a Solidão. Ela se mostrava nas janelas dos outros apartamentos. Jovens de frente ao computador, alguns até se masturbavam - podia sentir a excitação destes do lugar onde estava -, outros de frente a tv, reféns da televisão, da alienação.
Observei ainda mais a Solidão. Solidão que pairava por entre as geladeiras - aliás, por quê na madrugada sentimos tanta fome?-. Outras Solidões olhavam, assim como eu, pela janela. Procuravam o quê? Medo, Preocupação, Tristeza ou era apenas insônia?
Desviei o olhar. Vi o Amor. Eram dois jovens. Estavam sentados no sofá da sala. Se beijavam perdidamente, como se nunca tivessem se beijado antes. Ela ria de algo que ele falava, levanta-se e beijava seu rosto. Ele parecia hipnotizado por ela. Não tirava um sorriso bobo da cara, aquele de quando estamos apaixonados. Deitaram-se. Se abraçaram. Continuavam a se beijar.
O Amor.
O inocente Amor. Ali, há alguns metros da minha janela.
A inveja estava tomando conta de mim enquanto via aqueles dois. Olhei para a Felicidade. A Felicidade estava na cozinha. Irônico, não? Não. Apenas real. Era uma família. Duas crianças e dois adultos. Pude definí-los como o pai, a mãe e seus filhos. Mas o que faziam acordado aquela hora? Isso não importava. Só sei que riam muito. O Pai parecia fazer algumas caras engraçadas, enquanto a Mãe ficava próximo ao fogão, preparando algo. As Crianças se divertiam com toda aquela cena.
Medo, Tristeza, Solidão, Amor e Felicidade, pensei.
Em qual desses sentimentos podemos nos encaixar, na Madrugada? Qual deles tem mais a ver conosco? Para ser Triste não precisa ser Garota de Programa. E nem pra ter Amor é necessário estar beijando alguém.
Voltei para cama e concluí: a Madrugada revela um ser dentro de nós que não se revela na luz do dia. Um ser que tem medo, que tem segredos. Um ser chamado Caráter.

2 comentários:

  1. Poxa, muito bom o texto. Só mesmo quem enfrenta a madrugada em noites de insônia para entender toda a sua complexidade e infinitude. Já dizia Cazuza: "todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito". Parabéns pelo texto. Esperando por outros. Até mais. :D

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  2. Adorei teu blog, guri!
    Pois é, o Caráter é formado por todos esses sentimentos: Amor, Medo, Solidão, etc. Independente do turno. Só que de madrugada é mais fácil ver, porque achamos que não estamos sendo observados.

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