sábado, 3 de setembro de 2011

Roteiro

Não estamos livres do roteiro do amor não correspondido. Como também não estamos livre do roteiro de sair pra jantar com os amigos, se divertir e dar gargalhadas como nunca.

Não estamos livres do roteiro de não se conformar com o peso. Como também não estamos livres do roteiro de não hesitar em comer um delicioso bolo de chocolate.

Não estamos livres do roteiro de conhecer pessoas que vão nos odiar e nos difamar sem razão alguma. Como também não estamos livres do roteiro conhecer um amigo que mais será um alma gêmea do que uma simples pessoa. Um alguém com quem vamos contar tudo, partilhar tudo e que sabemos que com ele temos segurança.

Não estamos livres do roteiro de assistir filmes insuportáveis e descobrir isso somente no fim. Como também não estamos livres do roteiro de assistir grandes obras do cinema, aqueles tipos de filmes que ficam no primeiro todo da sua lista e que, quando alguém comenta, você já sabe as frases dos personagens de cor.

Não estamos livres do roteiro de ter dezenas de trabalhos da faculdade pra resolver e achar isso desnecessário. Como também não estamos livres do roteiro de, em uma tarde ensolarada de julho, sentar-se frente à um monte de papéis antigo, folhear um por um, e lá encontrar cartas de amizades deixadas no tempo, trabalhos do colegial e fotos que nunca deveriam ter sido esquecidas.

Não estamos livres do roteiro de querer fazer a viagem dos sonhos, mas achar aquilo tão impossível. Como também não estamos livres do roteiro de fazer aquela viagem não planejada, onde tudo deu errado, mas que foi a melhor aventura da sua vida.

Não estamos livres do roteiro de uma reunião de negócios com grandes empresários. Como também não estamos livres de um café da tarde com a avó, ouvindo ela contar todas as histórias do passado e em como viver em 1960 era tão mais fácil.

Não estamos livres do roteiro de comer pratos insossos demais. Como também não estamos livres de se deliciar com uma pizza de bolonhesa.

Não estamos livres do roteiro do calor. Como também o frio sempre virá nos assolar no fim do ano.

Não estamos livres do roteiro do tédio. Como também algumas vezes vamos ter tanta coisa pra fazer que preferiríamos ficar sem fazer nada.

Não estamos livres de sentimentos confusos. Como também não estamos livres de sentimentos tão centrados e explícitos onde errar seria uma grande estupidez.

Não estamos livres do roteiro do castigo de Deus. Como também jamais estaríamos livres de todo seu amor, toda sua benignidade, todas suas bençãos, toda sua prosperidade e tudo o que de mais inimaginável Ele já possa ter criado para nós.

O roteiro é o mesmo.
Mas a forma de como vivê-lo é opção sua.
Escolha a mais agradável!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Morte


Estou preso entre agulhas e medo. O medo da morte está incluso, claro, apesar de eu estar distante do risco. A verdade é que hospital exala morte. Uma morte não tão traiçoeira assim, pois, estar aqui já nos faz sentir parte dela. Podemos senti-la caminhar entre nós, sentimos o frio da sua presença e o desespero da aproximação. Algumas vezes ela se afasta, definitivamente, e nós voltamos a sequer ter o cuidado de prevenir-se a estar em sua presença novamente. Outraz vezes é mais impiedosa e nos arrasta para um lugar desconhecido, deixando para trás lembranças, sonhos, familiares que parecem querer vencê-la.

É sempre assim.

Sempre.

E ainda há quem queira contestá-la!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

De Dentro do Armário


Nasci assim! Não foi necessário incentivos ou ameaça para tornar-me a pessoa que sou hoje. Apenas vejo o mundo dessa forma e tenho desejos diferentes dos desejos da minha natureza, do tradicional.

Alguns falam que é falta de um relacionamento aprofundado com os pais. Outros dizem que se trata de herança genética ou, até mesmo, que são entidades das trevas. Eu vejo como a realização do meu eu. A verdade exposta, escandalizando a quem é mais antiquado.

Meu pai ainda não sabe. É muito difícil tratar desse assunto com um homem que sonhou em ver você casado e cheio de filhos. Aquele homem que nos rotula como "o garanhão" das garotas e, como presente de aniversário, dá-nos uma bola de futebol.

E a mãe? Sempre sabe? No meu caso, sim. Poderia enganar a todas, menos a ela. Aquela que me conhece mesmo quando eu não digo uma palavra e que percebe no meu olhar algo diferente. Algo que iguala-se ao medo da rejeição, da destituição de amor, dos sonhos tradicionais destruídos.

Se não é fácil pra eu me aceitar, como espero que seja fácil para os outros? Mas o que adianta viver uma vida de mentiras? Prefiro a morte a ser aquilo que as pessoas querem. Tenho que ser eu mesmo. EU! Independente das consequências, tenho de pensar em mim. E as coisas, futuramente, talvez não sejam tão ruim assim. O mundo está verdadeiramente mais moderno e compreensível, ou as pessoas apenas fingem ser assim para depois nos julgar da forma mais cruel possível?

Outro dia vi na tv um rapaz (ogro, ignorante) dizer que somente os gays pegam AIDS. Então é isso? Os homossexuais são símbolos de doençãs e promiscuidade? Essa é a sociedade que diz aceitar as diferenças alheias e respeitar as opções dos outros? Há cada dia minha decisão torna-se mais complicada por notícias desse gênero.

Não sei como isso começou. Como disse, nasci assim. Na escola as garotas não chamavam minha atenção. Os garotos pareciam mais interessantes. Já relutei, já indaguei todos os deuses pra encontrar uma resposta de o porquê de eu ser assim, mas nada. Encontro somente o carma. O carma de ser assim e não mudar nunca. Caso contrário, não seria mais eu, seria a mentira. Seria o modelo que a sociedade impões que exista. Não, não seria eu...

Minha esperança é de que, um dia, tudo possa se normalizar. Um dia em que um beijo entre dois homens em uma telenovela não seja assunto pra ser debatido no Ministério Público. Um dia em que duas pessoas que se amam possam andar livremente pelas ruas de qualquer cidadesem serem agredidos. Um dia em que haja conscientização e que gays não sejam vistos como a escória ou vítimas de preconceito... Um dia. Que dia?

Enquanto isso, mantenho a porta do armário fechada!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Uma pequena homenagem à: Cézar Barros

Ao amigo, irmão e companheiro que sempre estará vivo em nossas mentes e corações, seja agora ou daqui a dez mil anos.

Uma pequena nota: ele ainda vive.

A dificuldade de escrever algo sobre alguém que não veremos mais é imensa. A todo o momento a lembrança daquele rosto sorridente e feliz nos vem à mente e faz pararmos tudo, voltando a pensar naquele tempo em que convivíamos juntos e tudo era mais fácil, mais feliz. De repente lembramos-nos da roupa, da piada, da música, dos filmes e das saídas que fizeram juntos. E como isso dói! Aí o desespero se apossa de nosso corpo, um frio na barriga vai se tornando cada vez mais forte dentro de nós e caímos em si. Então pensamos: “tudo isso não voltará mais... Nunca mais!”

E toda aquela felicidade de dias antes? E se soubéssemos que algo pudesse acontecer, como seria? Será que somos tão egoístas a ponto de não saber, ou não se importar, com o que acontece com o próximo, para nós o ajudarmos e impedirmos toda uma tragédia? Ou talvez tudo fosse a vontade de Deus, e contra isso não haveria contestação?

Sejam quais forem as respostas, todos sentimo-nos culpados. Seja por um adeus não dado, por um abraço esquecido ou até mesmo por uma ligação não feita. Todas as oportunidades já se passaram, agora não há nada mais a fazer. Todos os planos foram por água abaixo. Já não há plano B, ou C. É tudo fato. Tudo aconteceu mesmo. Tentamos não acreditar na notícia, tentamos relutar, pedíamos com fé para que aquilo fosse uma brincadeira de mau gosto, mas não. Aconteceu!

E agora? Como tocar a vida? Relembrar o passado é tão dolorido, mas nessas circunstâncias é o máximo que podemos fazer. E, acreditem, por mais dolorido que seja, é confortante!

Definir o Cézar em uma palavra seria um desrespeito e uma desonra á ele. De qualquer maneira, tal ato é impossível. O mesmo acarretava consigo tantas e tantas qualidades. E defeitos também, mas, por favor, se alguém lembrar-se de um apenas, contate-me, pois eu já não me recordo mais.

Quem conseguia ficar sério ao lado do Cézar? Outra tarefa impossível. O garoto esbanjava alegria, sorrisos. Sua presença era extremamente confortável, capaz até de fazer o mais destituído de felicidade alegrar-se e ver o mundo de forma diferente.

Conheço o Cézar há, pelo menos, uns 04 anos. Mas foi de um dois anos pra cá que nos tornamos amigos. Lembro que na primeira vez que nos vimos foi em uma situação em que eu estava super eufórico. Tinha acaba de passar no vestibular e não conseguia suportar tanta felicidade. Naquele dia muitas pessoas vieram dar-me parabéns. Um deles era o Cézar. Ali crescia uma grande amizade.

Depois daí começamos a nos encontrar, coincidentemente, em outros lugares. Não demorou muito para tornarmo-nos amigos. E ele era um amigo excepcional, que qualquer pessoa gostaria de ter: aquele que dá bronca, põe pra cima, faz sorrir, dança com você, cuida, ama, odeia, fica bravo, desiste e faz as pazes, canta, chora... Um anjo. Outro ser.

E é por tudo isso que não dá pra acreditar, e ainda não acredito, que tudo aconteceu.

Eu fico na espera de ver o celular tocar, ler o nome dele, atendê-lo e o ouvir contar todas as suas histórias, da sua última viagem. Ficaremos rindo durante horas no telefone (como sempre), vamos relembrar o passado e, no fim, marcaremos alguma saída para o fim-de-semana. Ou rezo para ver um tweet dele dizendo: “amigas, estou lyndo em Paris, fazendo compras, porque sou ryco. Já, já volto pra falar com vocês”. Ou então vamos perder contato. Ele vai fazer novos amigos no Rio Grande do Sul, me esquecerá e nós nunca vamos nos ver ou nos falar novamente. Ah, como eu preferiria que fosse assim!

O destino nos pregou uma peça. E tirou outra. Quem imaginaria que fosse ele? Quando recebemos uma notícia dessa natureza, nosso primeiro desejo é que nada seja verdade. Você está brincando? É o que falamos após tomar sabedoria. Não, diz que é mentira, é outra reação. Mas não adianta. Como queríamos voltar ao tempo e tentar mudar tudo. Não pra sermos heróis, mas pra tê-lo de volta ao nosso lado.

Aí vem o momento das lembranças. Eu, particularmente, sempre que assistir As Branquelas vou lembrar dele. Quando escutar I’m Gotta Felling e My Humps, do Black Eyed Peas, vou vê-lo cantar pra mim. E, a partir de hoje, não poderei mais ouvir uma música sequer do Green Day. Aí já será masoquismo demais e eu não sou forte ou corajoso o bastante.

Por fim, Cézar Barros, aquele sorriso que só você conseguia extrair do meu coração jamais poderá ser visto novamente. Não quero julgar-lhe. Quem sou eu pra tal ato? Mas vamos sentir a sua falta, sabia? O coração dos seus amigos e familiares nunca mais será o mesmo. Nem daqui a dez mil anos. Uma parte da nossa felicidade se foi, como agora poderemos ser feliz por completo? E, quando a gente se reencontrar, quero lhe dar um abraço como nunca dei antes.

Eu sei que você ainda vive.

Ah, eu sei.

Amaremos-te pra sempre.

Fica com Deus.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Madrugada

A insônia se apossou de mim. No meio de cobertores e travesseiros o sono não me encontrava. Ou eu não o desejava tanto assim. Faltava mais alguma coisa naquele cômodo... Mais algumas palavras. Algumas visões.
Levantei-me da cama ainda fria e fui para janela do apartamento. O relógio marcava 3 da manhã. Tudo estava calmo. Tudo era silêncio. A rua, tão movimentada de dia, expressava uma tristeza melancólica. Os poucos carros que passavam por ali traziam Medo. Denomeinei-os assim.
Olhei mais adiante, vi umas garotas de programa. Só não sabia se buscava pelo alimento ou pela luxuosidade. Há quem diga que buscavam por luxúria, mas parece um pouco clichê. Queria saber mais.
Observei cada passo daquelas garotas. Todas vulgares. Gritavam, se exibiam para os poucos carros que passavam. Nada. Voltavam para o mesmo lugar, para as amigas, para compartilhar aquilo que nenhuma delas tinha. Amor? Não sei. É difícil encontrar uma pessoa destituída de amor. Recebemos amor até dos nossos bichos de estimação. Elas buscavam mais. Expressavam mais. Denominei-as como Tristeza.
Parei de olhar para Tristeza e pude ver a Solidão. Ela se mostrava nas janelas dos outros apartamentos. Jovens de frente ao computador, alguns até se masturbavam - podia sentir a excitação destes do lugar onde estava -, outros de frente a tv, reféns da televisão, da alienação.
Observei ainda mais a Solidão. Solidão que pairava por entre as geladeiras - aliás, por quê na madrugada sentimos tanta fome?-. Outras Solidões olhavam, assim como eu, pela janela. Procuravam o quê? Medo, Preocupação, Tristeza ou era apenas insônia?
Desviei o olhar. Vi o Amor. Eram dois jovens. Estavam sentados no sofá da sala. Se beijavam perdidamente, como se nunca tivessem se beijado antes. Ela ria de algo que ele falava, levanta-se e beijava seu rosto. Ele parecia hipnotizado por ela. Não tirava um sorriso bobo da cara, aquele de quando estamos apaixonados. Deitaram-se. Se abraçaram. Continuavam a se beijar.
O Amor.
O inocente Amor. Ali, há alguns metros da minha janela.
A inveja estava tomando conta de mim enquanto via aqueles dois. Olhei para a Felicidade. A Felicidade estava na cozinha. Irônico, não? Não. Apenas real. Era uma família. Duas crianças e dois adultos. Pude definí-los como o pai, a mãe e seus filhos. Mas o que faziam acordado aquela hora? Isso não importava. Só sei que riam muito. O Pai parecia fazer algumas caras engraçadas, enquanto a Mãe ficava próximo ao fogão, preparando algo. As Crianças se divertiam com toda aquela cena.
Medo, Tristeza, Solidão, Amor e Felicidade, pensei.
Em qual desses sentimentos podemos nos encaixar, na Madrugada? Qual deles tem mais a ver conosco? Para ser Triste não precisa ser Garota de Programa. E nem pra ter Amor é necessário estar beijando alguém.
Voltei para cama e concluí: a Madrugada revela um ser dentro de nós que não se revela na luz do dia. Um ser que tem medo, que tem segredos. Um ser chamado Caráter.

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